A Fome na Irlanda:
Na segunda metade da década de 1840, as terras da ilha da Irlanda, então possessão da Grã-Bretanha, foram acometidas por um terrível fungo que atacou as plantações de tubérculos. Tratou-se da tristemente célebre praga da batata, que provocou um dos maiores surtos de fome da Europa moderna, matando milhares de irlandeses e obrigando outro tanto deles a emigrar para o além-mar. Poucas vezes na história a vida de um povo inteiro foi tão afetada por uma desgraça como aquela.
Os repórteres do London News enviados para os campos da Irlanda em 1849 não podiam acreditar no que viam. Eles foram para lá cobrir a Grande Fome que grassava na ilha pelo terceiro ano consecutivo, mas não imaginavam ver o que os aguardava. Onde esperavam ver a celebrada cor esmeralda das terras irlandesas, depararam-se com uma assustadora paisagem lunar. Espalhados nela, uma gente famélica, reduzida aos ossos, homens, mulheres e crianças, removia a terra como um bando de doidos. O que conseguiam catar do chão levavam logo à boca ou jogavam para os filhos, encovados e exaustos, sentados ao redor.
A Praga da Batata:
Toda a população rural tornou-se vítima da potato blight, a terrível praga da batata, que, ano após ano, desde 1845, devorava os tubérculos, deixando o povo desesperado. As cidades encheram-se de esfaimados e de tifosos. Os armazéns eram tomados de assalto por amotinados esquálidos e coléricos enquanto proliferavam em todos os lugares das cidades maiores uma insuficiente distribuição de sopas para amparar os sobreviventes. As imagens dessa tragédia social, cujo clímax deu-se entre 1847-9, foram captadas pelos vivos desenhos dos repórteres, que, na falta da fotografia, deixaram o seu testemunho ilustrado daquelas cenas de loucura e desesperação que os acompanharam o tempo todo enquanto estiveram deambulando pela ilha. A fungo mortífero liquidara com quase toda a plantação de batata, matando, segundo estimativas modestas, quase um milhão de irlandeses pela inanição e pela doença.
Os Navios-caixão:
Os que ainda conservavam um pouco de energia, trataram de emigrar para o exterior. Entre eles o bisavô do futuro presidente John F. Kennedy, que embarcou num coffin ships, num navio "tumbeiro", e chegou na América do Norte sabe-se lá como. Para o povo irlandês, a praga da batata assumiu feições de maldição divina, de grave e inexplicável infração teológica. Seguramente, suspeitaram os pobres, havia algum senão em nascer-se gaélico e católico. Para aumentar-lhes a desgraceira, as punições não vieram só do Céu, pois os grande proprietários, alegando a óbvia inadimplência dos arrendatários e da arraia miúda de lavradores, tocou-os para fora das habitações (só em 1850 foram despejados das terras 104 mil camponeses).
A indiferença dos Liberais:
O mais doloroso, o pior, no entanto, foi o desempenho das autoridades inglesas. Vivendo no clima do nascente liberalismo econômico, a grande maioria dos altos funcionários da coroa britânica que administravam a Irlanda era devota do laissez-faire e do pastor Malthus. Para eles, qualquer intervencionismo, como o que tentara sir Robert Peel (um político conservador que se condoera da situação dos flagelados, criando-lhes frentes de trabalho e uma eficiente distribuição de alimentos), era heresia. Estimavam que mais tarde ou mais cedo, a Grande Fome seria
aplacada pelas forças do mercado. Em vista disso, não inibiram que outros alimentos plantados na ilha continuassem a ser exportados, apesar da fome que grassava em meio ao povo. Não que se pode culpar o liberalismo pela tragédia, mas suas medidas, ou a falta delas, implicaram sim num aprofundamento do desastre.
O Império do Mercado:
Um quadro paradoxal, sob o ponto de vista humano, então se delineou. Enquanto três milhões de irlandeses, num total de oito milhões, reduziam-se a uma vida de animais, disputando cada grão a tapas e socos, os grandes plantadores continuavam a mandar sacos de cereais para fora. A todos os que sofreram com aquilo, as leis do mercado nada mais pareciam do que maldade e sadismo. Não satisfeitos com isso, as autoridades impediram que carregamentos de comida vindos de outras partes fossem entregues à população a preços subsidiados porque, para elas, tais favores aviltariam os preços do mercado cerealístico. Um prato barato que se estendesse a um faminto era entendido como um desaforo aos lucros. Parece-me que tal fanatismo doutrinário dos liberais escondeu um acerto de contas contra um povo que o secretário inglês na Irlanda, na época sir Charles Trevelyan, definiu como "egoísta, perverso e turbulento", pois como se sabe os irlandeses nunca se conformaram com o domínio britânico. Portanto, não se exagera em supor-se que o rigor com que desejaram manter as leis de mercado contra a evidência de um fome em massa, estava em acordo com a idéia de punir-se os irlandeses pelo seu indomado espírito de rebeldia antibritânica.
fonte: educaterra.terra.com.br
Monumento aos famintos, em Dublin
1 comentários:
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