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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Minhas Raízes...

São benedito

procissão 2010

Reis da Festa de São Benedito 2010

 Maria Angú

Cavalaria de São Benedito

Ultimo dia 14 de abril, fiquei meio triste aqui na Irlanda, pois era dia de São Benedito em minha cidade natal (Aparecida) e a cidade toda estava em festa. Eu fiquei lembrando dos amigos, da família e como "eles" deveriam estar felizes comemorando o grande dia. Mais 1 ano que eu não prestigio a festa, por estar aqui. Esse é o preço. Mas, ano que vem espero estar lá para resgatar minhas raízes, minha cidade e meu Povo.
Recebi um e-mail lindo de uma amiga e cliente, que me disse com palavras tão bonitas, como foi a comemoração da festa de Sao benedito e quais as expectativas que encheram o dia de Alegria. Isso me fez ter mais saudades, e me fez pensar de onde eu vim, nas minhas raízes,  e que eu jamais vou esquecer. É essência fundamental na minha vida...
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"Oi Wagner,
Estive na Festa de S. Benedito em Aparecida, fui dirigindo na sexta à noite super tarde, cheguei lá às 23:15 h e fui direto para a praça... meio que tentando resgatar o passado!
Que delícia! Cachorro quente do Ditão, uma cervejinha gelada na barraca da APAE, churros e maça do amor... sinto falta do cheiro da festa, coisas da infância... já que enquanto menina não deixava de ir à festa para comer as guloseimas, um churrasquinho da barraca do Luvino e ir pra casa, com restos de pipoca na mão e maça do amor, com certeza um iô-iô, uma bexiga, balões e alguns estalinhos e bombinhas que economizávamos um a um para que durassem a semana inteira... isso jamais se apagou das minhas lembranças, acredito que das suas também não.
Aos 20 e uns, no período da Faculdade em Taubaté, era de praxe descer na festa para matar a fome, comendo o cachorro quente da Dona Santa e para beber aquelas bebidas exóticas e eróticas como vinho de seda e suor de virgem... lembra-se?
Hoje depois dos 40 e uns, a festa toma outro sentido, é data marcada no calendário para reencontrar os amigos de infância do Chagas Pereira, encontrar os parentes, jogar conversa fora até a madrugada, rir muito das estórias do passado, das festas dos ‘anos dourados’. Depois tomar canja na casa da Clarete para retomar as energias e ter sustança suficiente para a maratona da festa no dia seguinte... é preciso ter pique para tanta coisa e a energia já não é a mesma, meu caro, ficar sem dormir então nem pensar...
A programação só aumenta e nunca diminui, vão inventando coisas e aquilo virá tradição e motivo de superação ano a ano: gincana de motos, leilão de gado, gincana nas escolas etc. além das mais emocionantes que vou fazer você se lembrar:
Na Basílica Nova às 11:00 h do sábado, encontro das congadas, moçambiques e marujadas com seus estandartes, coroas, fitas coloridas, flores, plumas, penas e paetês, atabaques, pandeiros e chocalhos. O canto forte, de raiz, de fé, dá amostra da crença pelo santo negro e a devoção à Nra Sra do Rosário. Esse ano foi emocionante!
Que alegria! A cada ano aprendemos um pouco mais sobre a festa, a fé e a cultura tradicional popular da nossa gente. Aparecida durante a Festa de S. Benedito se torna um rico acervo das manifestações populares, do folclore do povo mineiro, capixaba, carioca e dessa vez até goiano! Eram grupos de toda a região sudeste, dando provas de beleza e de preservação da cultura, dos mais velhos aos mais novos, com base na fé no santo cozinheiro e negro que não deixa faltar nada na cozinha, e oxalá na vida...
No abraço das congadas no sábado à noite na Praça da Basílica Velha, outra manifestação da fé desse povo, a devoção à N. Sra Aparecida, as congadas, moçambiques e marujadas dançam e cantam ‘abraçando a igreja e a praça’.
No domingo às 09:00 h, a missa conga, ponto alto da festa. Dessa vez trouxeram num carro entrando na praça no meio do povo, um homem alto, negro, muito parecido com S. Benedito, com uma criança aos braços, representando o milagre do santo em ressuscitar um menino já sem vida! A praça toda se surpreendeu, e o Pe. Coutinho foi então até o carro com o negro alto, e tomou-lhe a criança, erguendo-a em meio à multidão. Antes, porém uma linda dança africana com dançarinos usando máscaras feitas de fibras e de folhas verdes, dançando ao som dos tambores africanos... e gelo seco, imitando fumaça foi surpreendente!
Esse ano o altar da missa, montado no palco, estava todo decorado de africano, com raízes e fibras de árvores, muito verde e laranja, estava lindo. Você teria gostado. Também houve uma dança com mulheres de turbantes na cabeça, vestidos estampados de azul e jarros de água nas mãos. O casal do reinado esse ano, como manda a tradição dos últimos anos, estavam também vestidos de africanos, a rainha usava um aplique enorme torcido e trançado na cabeça como as africanas, você tb ia gostar de ver.
Na hora da famosa procissão do mastro, símbolo da presença do santo na praça, tb não deixou a desejar, sempre com o céu azul dessa época de outono, a serra da Mantiqueira ao fundo fazia o cenário perfeito para completar o ritual de sempre! O sol forte e brilhante fazia ofuscar os olhos e as bandeirinhas coloridas ajudavam a compor a cena, uma tradição que nunca deixa de ser emocionante.
O mastro azul decorado por rosas coloridas pintadas delicadamente, hoje pelo filho do capitão do mastro, sempre ao gosto da rainha da festa, com uma guirlanda com a imagem do santo no topo traz emoção a todos a sua volta. Uma vez erguido e fixo no chão, estará preenchendo definitivamente o buraco na terra, antes aberto à frente da igreja, repleto de bilhetes solicitando graças e agradecendo pelas já alcançadas, junto de arroz, feijão e dinheiro, na expectativa de que o santo milagroso traga fartura na cozinha, traga dinheiro, emprego, cure os males e doenças. Dá de tudo um pouco! Sabemos disso pelas conversas com quem lá deposita os seus pedidos, já que ninguém jamais saberá o que foi pedido ao santo! Os bilhetes permanecerão para sempre enterrados, ano a ano, com o segredo de tanta gente!
Na sequência, a cavalaria é sempre uma atração! Com as ‘socialites’ montadas como ‘mantenas’ à frente, e o resto do povo e os grupos e clube do cavalo atrás. Esse ano com muita chuva, foi uma pena, pois atrapalhou o cortejo. Os reis vieram em uma pequena charrete, teve até carro de boi abrindo o percurso e muito cavalo inteiro, e por isso mesmo veem sempre no final, pois há um grande perigo, o de haver alguma égua no cio e a coisa pode ficar ‘preta’...
No dia da Festa, a alegria e o barulho das congadas começa logo bem cedo, às 05:00h da manhã com a salva de 21 tiros de canhão e a procissão da alvorada, quando essas se dirigem ao mastro do santo, colocado na véspera, para agora sim darem provas, uma a uma, da sua divindade e devoção, dançam, cantam, trançam fitas, cruzam espadas, pisam forte com as latinhas presas aos pés, cheias de guizos ou pedriscos, para aumentarem e marcarem com seu som, o ritmo da dança.
Alguns grupos que lembram os terreiros de umbanda e candomblé fumam charuto e entram em transe literalmente. Isso é algo raro de se ver, pela religiosidade católica da festa, muitos não acreditam, mas já presenciamos esse fato curioso, por mais de uma vez. E não há nada pra se estranhar já que essa festa de 101 anos em Aparecida é uma das evidências do sincretismo religioso presente no nosso país, junto da riqueza da cultura africana, como também a devoção ao próprio São Benedito (nascido em Palermo na Itália), trazida pelos portugueses.
Se observarmos nas procissões, as coroas das senhoras e senhores negros, membros da corte, veremos a cruz de Cristo como símbolo central na coroa, ao lado, a meia lua crescente, símbolo do Islamismo e a estrela de David, símbolo do Judaísmo, que junto da dança africana e dos ritmos dos tambores nos remota ao período das cruzadas na Península Ibérica e na nossa história mais recente, no período da escravidão e da senzala. Isso tudo só fui aprender com minha irmã Ana Claudia, que jornalista e devota do santo, que pesquisando sobre cada fato histórico da festa, prestou-lhe uma homenagem, escrevendo uma revista em preto e branco com todos esses detalhes.
Infelizmente, esse ano não pude ficar para a procissão no dia da festa, mas já soube que foi muito bonita! E a tradição da surpresa do andor que traz o santo padroeiro e a procissão do reinado, trazendo na sua corte, damas de ramalhete e cavalheiros, reis e rainhas dos anos anteriores e na sequencia, os futuros rei e rainha do próximo ano.
Encerra-se a festa com grande queima de fogos de artifício e a procissão de volta à Igreja de Santa Rita para devolver-lhe a santa, já que essa pela tradição, passa a noite na Igreja de S. Benedito como pagamento ao período em que a imagem do santo quando em reforma de sua igreja, ficou hospedado na Igreja de Santa Rita. Mais uma tradição que encanta até jornalistas, agnósticos ou ateus que vêem anualmente à Aparecida para testemunhar essa reverência à nossa cultura popular, tão ignorada por tanto brasileiro.
Somos privilegiados por termos tido a oportunidade de crescer e viver essa cultura linda do nosso povo simples e humilde, de comunidades cheias de fé e devoção! Continuarei seguindo em busca do cheiro e das belas imagens que posso registrar durante a festa de S. Benedito!
Com esse relato quis homenageá-lo, em retribuição a sua homenagem, fazendo-o lembrar da festa e jamais se esquecer das suas belas raízes, mesmo ai na Irlanda.


              Um grande abraço!

              Darlene"

              Obrigado Darlene...vc encheu o meu dia de ALEGRIA!!!!!




2 comentários:

Monica disse...

Meu querido amigo, obrigada por trazer tão perto lembranças da minha infância...em Poços de Caldas, temos tbem a Igreja de São Benedito, e a festa é toda essa alegria, Congas, Caiapós, Danças, Procissão, Maças do Amor, Churrasquinho no espeto...e música muita música.

Lindo texto da sua amiga, são pequenos gestos como o dela q nos fazem sentir amados!!

Um grande beijo e q São Benedito abençoe a todas as nossas cozinhas e quitutes rsrs.

Mr. Lemos disse...

Que beleza, meu caro! Sua amiga conseguiu passar pelas palavras os sabores, cheiros e texturas da festa. Parabéns pelas raízes e pela homenagem! Grande abraço